A sanfona de Dominguinhos cabe em qualquer lugar. Apesar de seu regionalismo, é impossível negar a existência de uma universalidade na obra do sanfoneiro herdeiro da coroa de Luiz Gonzaga. Nascido em Garanhuns, Dominguinhos, que completou 70 anos em fevereiro deste ano, já tocou e gravou ao lado de uma infinidade de artistas. Luiz Gonzaga, Gal Costa, Gilberto Gil, Chico Buarque, Nara Leão, Djavan, Elba Ramalho, Daniela Mercury, Fagner, Ivete Sangalo, Paula Fernandes, Yamandu Costa e Falamansa estão entre eles.
O álbum Dominguinhos ao vivo também ilustra isso. Gravado durante uma apresentação em São Paulo, em 2001, o sanfoneiro conta com a participação de um violino em algumas das canções. Por diversas vezes foi convidado para se apresentar ao lado ou com participações de orquestras sinfônicas. Sua composição "Eu só quero um xodó" (parceria com Anastácia) já teve mais de 250 regravações, incluindo versões em inglês, holandês e italiano.
Para mostrar essa pluralidade da obra de Dominguinhos, e também para presenteá-lo por suas sete décadas de vida, um documentário idealizado pela cantora e compositora Mariana Aydar e pelos músicos Duani Martins e Eduardo Nazarian está sendo preparado em parceria com a produtora BigBonsai. Dominguinhos volta e meia, que vem sendo gravado há três anos, tem direção de Felipe Briso e deve ser lançado em fevereiro de 2012.
O ponto de partida do documentário para o cinema é o aniversário de 70 anos do músico e seus compromissos pessoais e profissionais, sempre permeados pela música. A partir disso, o filme trará um olhar para o passado com o objetivo de contar a história de Dominguinhos.
Além disso, os produtores conseguiram realizar diversos encontros musicais entre Dominguinhos e artistas como Gilberto Gil, Djavan, João Donato, Hermeto Pascoal, Mayra Andrade, Hamilton de Holanda e Yamandu Costa, entre outros. Esses momentos serviram para ilustrar as diversas fases da carreira do sanfoneiro.
A infância de Dominguinhos no sertão, quando para ele a música era feita quase que como uma brincadeira, é retratada com o encontro do artista com o músico Hermeto Pascoal, que também nasceu no sertão (Pascoal é de Alagoas) e lida até hoje, aos 74 anos, com a música de uma maneira quase lúdica.
Uma segunda fase, já no Rio de Janeiro, quando Dominguinhos começou a tocar em boates e ‘inferninhos’, será retratada pelo encontro com o compositor João Donato, do baterista Wilson das Neves e do baixista Luiz Alves, que também passaram por esses ambientes nas décadas de 1950 e 1960. Juntos, eles interpretaram músicas como "Plantio do Amor" (Dominguinhos) e "Minha Saudade" (João Donato).
“É emocionante a devoção que os artistas têm ao Dominguinhos”, diz o diretor Felipe Briso. Para ele, o público tem uma visão muito fechada sobre quem é o Dominguinhos. “Quando você conversa com outros músicos, as definições crescem. Ele é considerado, para os companheiros, um dos maiores instrumentistas vivos”, diz.
Os produtores também acompanharam shows de Dominguinhos em São João e alguns pelo Estado de São Paulo. O artista não anda de avião, por isso todos os deslocamentos são feitos de carro ou ônibus. “O que ele gosta é de tocar seu baião e colocar todo mundo para dançar”, afirma o diretor.
Diante do vasto e rico material que conseguiram captar, o documentário, segundo Felipe Briso, virou “Projeto Dominguinhos” e será lançado em diferentes plataformas, como cinema, internet e uma possível versão para a televisão. ”Um documentário atinge um público restrito e a história de Dominguinhos, eu tenho certeza, interessa a muito mais pessoas”, diz o diretor. Na internet, por exemplo, os produtores pretendem colocar clipes musicais gravados com os convidados de Dominguinhos.
No dia 19 de agosto, Dominguinhos foi internado em São Paulo. O músico há quatro anos luta contra um câncer no pulmão e, segundo seu empresário, seria submetido a sessões de quimioterapia. Por conta da internação, apresentações agendadas para São Paulo e Minas Gerais tiveram que ser canceladas
Danilo Casaletti da Época
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